Para além da apertada decisão dos convencionais, que aprovaram no domingo, 31 de julho, a união com o PSDB, o apoio ao ex-governador Eduardo Leite como candidato ao Piratini e a indicação do deputado Gabriel Souza para ser o vice, o fato é que o MDB gaúcho está em chamas.
O emblema dessa disputa que opõe históricos a modernos, passando pelos pragmáticos e, claro, também com os oportunistas de plantão, foi a já famosa vaia que teve como destinatário Cezar Schirmer. O ex-prefeito santa-mariense, atual vereador na capital, mas, sobretudo, figura de proa em diversos momentos do MDB, desde os tempos de enfrentamento parlamentar à ditadura, não conteve o desabafo: “eu que tenho mais de 50 anos de MDB, jamais imaginei que seria vaiado em um congresso do partido”.
Pois é, mas aconteceu. E parece evidente que desrespeito (sim, que se reconheça isso) tem causa. E ela está no próprio partido, tão dividido e que não mostra hegemonia clara de algum grupo.
Sobre tudo isso, a coluna ouviu três militantes. E de épocas distintas. Um recém-chegado, emedebista deste século. Os outros são históricos. Um com atuação desde os anos 90. Já o segundo, militante da primeira leva, que esteve na luta contra o autoritarismo, algo com que os demais não conviveram.
O mais recente se limitou a simplificar. Lembrou quatro lideranças emergentes na agremiação e que desempenham funções de ponta.
São elas Igor Tambara, de Jaguari (Presidente da Associação dos Vereadores do MDB), Gustavo Stolte, de 15 de Novembro (Presidente da Associação dos Prefeitos e Vices do MDB), Paulinho Salerno (Presidente da Federação das Associações de Municípios do RS/Famurs) e Gabriel Souza (deputado estadual, ex-presidente da Assembleia e candidato a vice-governador).
O interlocutor perguntou ao escriba o que esses quatro personagens têm em comum, e às quais acrescentou o deputado Roberto Fantinel, com grandes condições de reeleger-se? O próprio respondeu: duas coisas. Uma é que são jovens, todos com menos de 40 anos. Outra é que são protagonistas do novo MDB, o que quer que ele seja e a despeito do que possam pensar e fazer os chamados históricos”.
Cá entre nós, faz todo o sentido. E é esse o choque que estaria havendo no interior do, talvez, principal partido político das últimas décadas, na terra de São Pedro do Rio Grande do Sul.
Agora, noves fora isso tudo, a vaia a Schirmer não precisava, nem deveria, acontecer. Foi, sim, um desrespeito. E ponto.
Palavra de um histórico militante do MDB: “convenção para louco”
Foto: Joel Vargas (Divulgação)
A pedido do colunista, veterano militante do MDB, contemporâneo do ex-prefeito Cezar Schirmer, se manifestou sobre o que há com o partido hoje e tem como mote justamente a convenção do último domingo, que ungiu Gabriel Souza (na foto que ilustra esta nota) candidato a vice-governador, na aliança com o PSDB. Sua identidade é preservada, mas é figura bastante conhecida entre os emedebistas.
Confira a opinião dele, tanto sobre a convenção quanto em relação ao que virá:
“Uma convenção para louco. Uns querendo Gabriel (Souza), outros (Eduardo) Leite, alguns bolsonaristas, poucos Simone (Tebet, a candidata do partido à Presidência). Um desacerto total, companheiros se digladiando, vaias a figuras históricas, um relacionamento altamente prejudicial para um encontro que deveria ser cívico partidário. Ausência de convergência para um desfecho feliz no encontro que deveria ser de muita alegria.”
Já em relação ao futuro… “Vamos ter muita briga logo, logo. Não haverá convergência. Caminhos desorientados para um partido que se diz o maior do País. Acabou. Inexiste liderança para conduzir está caminhada que será nefasta para ocupação de espaço estadual e federal. Estou muito preocupado com o futuro partidário.”
Prognóstico: o que acontecerá com o emedebismo no pré e no pós-eleição
Ativo militante emedebista, pelo menos desde o inicio dos 90, com cargos importantes desde então, a pedido da coluna, avalia a situação e faz um prognóstico para o futuro próximo do MDB. Confira, nas palavras dele, a seguir.
“São dois momentos. O primeiro, nessa divisão do partido, percebida na convenção, é o que virá até a eleição. Quem estava com Onyx Lorenzoni (PL), agora tem motivo para abrir o voto bolsonarista.
Quem queria a aliança, mas sem Gabriel Souza de vice, aguardará a consolidação da chapa com os tucanos para se aproximar. E os que já apoiavam o deputado, agora vão falar para fora do partido, dialogar com a população, sem se preocupar com quem só quer ficar falando para dentro do partido.
O segundo momento vem após a eleição. Se houver vitória, com vice-governador, e bancadas federal e estadual fortes, a nova geração de líderes do partido irá ditar o rumo e o ritmo do MDB.
Isso acontecerá com a ocupação de cargos importantes no governo, priorizando quem esteve na campanha, essa gente jovem, na casa dos 18 aos 50 anos, e que irá disputar as eleições municipais de 2024.
No caso de derrota… Dependerá de quem for o vencedor. Se for Onyx, a ala bolsonarista ditará as ações do partido, inclusive no futuro governo, com cacife para voltar a comandar o partido. Se não for…
Já os históricos (Simon, Sartori, Ponte, Schirmer…) estão desconectados da realidade do partido. Ainda são do tempo em que enviavam ‘carta’ para o dirigente do interior e ele nem piscava e já aceitava a decisão. Tendem a influenciar cada vez menos, independente do resultado da eleição.”
Então, tá!
Luneta
QUATRO, TALVEZ
Foto: Divulgação
Num cenário que se imaginava, em determinado momento, com até 10 fortes candidatos, o pessoal começou a roer a corda, ou simplesmente preferiu se preservar. Mas o fato é que, após a última desistência, a de Lasier Martins (foto), do Podemos, a briga para virar senador, de fato, ficou resumida a apenas três, quem sabe, com muito boa vontade, quatro pretendentes competitivos à única vaga disponível.
SUFICIENTES 30%
Mas, e quem são essas quatro figuras ilustres e competitivas que querem representar o Rio Grande no Senado? Por ordem alfabética: Ana Amélia Lemos (PSD), Hamilton Mourão (Republicanos), Nádia Gerhard/Comandante Nádia (PP) e Olívio Dutra (PT). Há quem aposte que, tamanho é, antes de iniciar a campanha, o equilíbrio que, desses (e dos outros concorrentes), quem fizer 30% estará eleito.
JOGO PESADO
Leve, definitivamente, não é a situação no MDB gaúcho, pelo menos na disputa interna pelo poder. Exemplo é a crítica acerba feita por militantes graúdos da sigla aos históricos Cezar Schirmer (hoje prefeito da capital) e José Ivo Sartori (último governador eleito pelo emedebismo), com larga folha de serviços prestados à agremiação. E que tem a ver, justamente com as cidades de origem de ambos.
JOGO PESADO II
Olha o que ouviu a coluna: “só para lembrar, (Cezar) Schirmer saiu da prefeitura de Santa Maria e entregou a cabeça de chapa para o PSB, em 2016. No mesmo ano, (José Ivo) Sartori saiu da prefeitura de Caxias e apoiou o PDT. Ambos foram derrotados. Não tem santo nessa história. Tem tempo. Tempo passado, tempo presente e futuro. O que é feito agora, a aliança com o PSDB, os dois já praticaram”. E dizer o quê?
PARA FECHAR!
Com cinco candidatos em outubro (Admar Pozzobom, Paulo Ricardo, Tony Oliveira e Werner Rempel e a suplente em exercício Maria Rita Py) e o autoimposto silêncio compulsório na TV Câmara, o fato é que por dois meses, não fosse o importante trabalho de subcomissões e quetais e ninguém notaria que o Legislativo santa-mariense estaria funcionando. É o tal efeito eleição. Debate? Só após 2 de outubro.
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